Cecan

Pai de corpo e alma

Ele precisou se reinventar para ajudar o filho, de 17 anos, a superar o câncer: “Sou um novo homem!”

Emocionado, Renan beija o filho Gabriel em frente ao CECAN, onde ocorreu o tratamento

Descobrir que o próprio filho tem câncer é uma experiência arrasadora, e até apavorante. A primeira reação geralmente é a negação da doença. Afinal, “porque comigo? Só pode haver algum engano, claro! ”. Mas, depois, quando a “ficha cai”, o mito da doença também começa a se desmantelar cedendo, aos poucos, espaço para a esperança que, renovada, volta a impulsionar a vida, fazendo brotar forças e possibilidades antes inimagináveis.

“Eu vivenciei isso”, disse o gerente de produção Renan Padovani. Aos 47 anos, ele é pai do jovem Gabriel Supriano Padovani, de 18 anos, que desde os 17 trata de um câncer no testículo, no CECAN- Centro do Câncer da Santa Casa de Piracicaba.

Segundo ele, mesmo diante da tristeza, da raiva, do medo e da insegurança paralisantes provocados pelo diagnóstico do câncer, quando você acredita na vida, é possível levantar-se contra a doença e vencer aquela que, certamente, será uma das maiores batalhas enfrentadas.

“Mas depois da tragédia, que deixa a gente sem chão, vem a certeza de que a única coisa que podemos, de fato, fazer é não desistir da vida e acreditar na cura”, afirma o pai de Gabriel, ao se recordar que o diagnóstico caiu feito bomba. “Um golpe violento que feriu, sem exceção, todos os membros da nossa família”, conta.

A experiência com a doença, entretanto, não era nova. Sua esposa, Maria Cristina Supriano Padovani, de 47 anos, lutou contra um câncer de mama há três anos e está curada. Para Padovani, uma lição de vida: “A gente aprende a questionar menos e a aceitar mais as barreiras que a vida coloca no nosso caminho; porque no fim, o que conta mesmo é a forma como a gente reage a tudo isso”, disse.

Para ele, a parte mais difícil foi o choque provocado pelo diagnóstico de seu filho, em outubro de 2017. “Ficamos paralisados”, recorda. Ele conta que estava ao lado de Gabriel que, naquele momento, foi tomado por muita tristeza e forte emoção. “Ele chorou muito e, por acompanhar o tratamento da mãe, sentiu-se inseguro e amedrontado. Eu, por outro lado, não dormi por noites, pensando na possibilidade de meu filho ficar estéril”, lembra Padovani.

Eles sabiam que, com o diagnóstico, certamente viriam também a cirurgia, além das sessões de quimioterapia ou radioterapia; ou então as duas juntas. “Isso sem mencionar os efeitos colaterais”, disse Padovani, revelando o cenário angustiante de dúvidas e incertezas que tomou conta da situação. “Nessas horas, encontramos conforto apenas nos profissionais que estão ao nosso lado nessa luta”, revelou ao mensurar a importância de informações precisas e esclarecedoras como fonte inesgotável de esperança.

Segundo ele, a primeira indicação médica para Gabriel foi a cirurgia, em novembro do ano passado. Vinte dias depois, tiveram início as sessões de quimioterapia, que se prolongaram por um mês. “Estive ao lado dele em todos os momentos e acompanhei todas as sessões de quimioterapia, que chegavam a durar cinco horas. Sofremos e comemoramos juntos”, conta.

Antes da cirurgia, porém, Gabriel foi submetido a um espermograma para congelamento do sêmen. Uma garantia de que ele será pai, caso o câncer de testículo influencie sua fertilidade. “Novos exames estão marcados para novembro, quando teremos essa resposta”, disse o pai. Hoje, Gabriel está curado e livre das quimioterapias; mas vai precisar manter acompanhamento médico preventivo.

“Depois disso, aprendemos a valorizar mais a vida, a família e os amigos que nos amam de verdade, pois só o amor justifica tantas superações”, afirmou Padovani. Ele garante que, hoje, é outro homem. “Sou mais forte e otimista”.

“Tive vergonha e medo”

Renan, pai de Gabriel, acompanhou todas as sessões de quimioterapia do filho

Prestes a concluir o 3º ano do Ensino Médio junto com o curso técnico de eletroeletrônica, Gabriel Padovani confessa que, ao receber a notícia de que era portador de câncer no testículo, chegou a ver seus sonhos desmantelados. “Era setembro do ano passado e eu fazia planos para os meus 18 anos e para a minha carreira. Jamais pensei que a dor estranha que eu vinha sentindo há algum tempo no meu saco escrotal pudesse ser um tumor cancerígeno”, disse.

Ele conta que chegou a comentar com dois amigos, que nunca tinham sentido nada parecido e, portanto, não poderiam ajudar. Por vergonha, resolveu não contar aos pais e esperar até que a dor melhorasse. Mas a dor ia e vinha tornando-se insuportável com o tempo. “Devo ter ficado assim por cerca de um mês antes de procurar a ajuda dos meus pais”, contou.

No dia seguinte, após consulta médica, Gabriel passou a realizar uma série de exames que acusaram o câncer. “Foi muito triste; estava confuso e me senti meio atordoado, como se não soubesse para onde ir, nem o que sentir. Era um misto de pânico e vazio que me assustava; tive medo”, relata.

Primeiro foi preciso remover o tumor por cirurgia para, depois, fazer o espermograma e, vinte dias depois, dar início às sessões de quimioterapia. “Foi um mês de tratamento pesado, com quimio de segunda à sexta-feira na primeira semana e, depois, aplicações às segundas-feiras por três semanas”, disse Gabriel, repudiando os efeitos colaterais. “Sei que as pessoas reagem de maneiras diferentes ao tratamento, mas eu passei muito, muito mal; vomitava, me sentia fraco e não tinha vontade de levantar da cama, o que me afastou dos estudos por um mês”, recorda.

O conforto veio da família e, em especial do pai, Renan Padovani, que não desgrudou de Gabriel por nenhum instante. “Ele me acolheu, me confortou e me fortaleceu com sua força, sua descontração, seu bom humor e seu amor; hoje, curado e livre do câncer, sei o que é ter um pai de corpo e alma”, disse.

Câncer de testículo é o mais comum entre jovens

Alerta do oncologista Fernando Medina: quando detectado em fase inicial, o câncer tem mais de 90% de chances de cura

Estudo feito pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA) mostra que o câncer foi a segunda causa de morte em adolescentes e jovens adultos de 15 a 29 ano nos últimos anos, ficando atrás apenas de “causas externas”, como acidentes e mortes violentas. “Se considerarmos somente as doenças, o câncer é a principal causa de morte nesta faixa etária”, informa o oncologista Fernando Medina, diretor do CECAN- Centro do Câncer da Santa Casa de Piracicaba.

Segundo ele, o câncer de testículo é o mais frequente entre os jovens, correspondendo a 5% do total de casos de câncer entre eles. A boa notícia é que esse tipo de tumor apresenta alta possibilidade de cura, quando tratada no estágio inicial.

“Este tipo de tumor, geralmente, começa com a presença de nódulos e massas ou com o aumento do testículo”, esclarece Medina, alertando para a ausência de dor na maioria dos casos, o que pode fazer com que o paciente demore a perceber o problema. Ele lembra que, infelizmente, a realização de exames de prevenção contra o câncer, seja de testículo ou de próstata, ainda é um tabu e muitos homens não incluem a consulta ao urologista em suas ações preventivas de saúde.

“Assim como o autoexame da mama para as mulheres, o autoexame de testículos é fundamental para a detecção de nódulos e tumores em estágio inicial”, explica Medina. Ele ensina que o exame deve ser realizado todos os meses, após um banho quente – que relaxa a bolsa escrotal e facilita a observação de anomalias. A atenção deve ser redobrada também em casos de sensação de peso, dor ou desconforto na bolsa escrotal.

 

12.08.18 – Cecan – Pai de corpo e alma