Psicologia e câncer
Assim como o tratamento médico, o acolhimento psicológico torna-se cada
mais importante e efetivo no processo de cura de doenças crônicas
À exceção de uma pequena porcentagem de pessoas que, desde o início, aceita muito bem o diagnóstico de uma doença como o câncer, na maioria das vezes, o processo de adaptação e convivência com a nova realidade pode provocar a negação da doença, revolta e depressão antes de se alcançar a aceitação.
“O problema de não eliminar ou encurtar essas fases é que, nesse período transitório, esses sentimentos geralmente interferem nos resultados do processo de tratamento, acarretando perdas importantes na qualidade de vida do paciente”, avalia a psicóloga hospitalar Pedrilha de Goes Baggi que, há 11 anos, atua junto ao CECAN- Centro do Câncer da Santa Casa de Piracicaba.
Segundo ela, a notícia mexe com a vida do paciente e de todos que estão a sua volta. “O tratamento do câncer pode ser longo e cansativo, com cirurgias, radioterapia e quimioterapia, entre outras rotinas e procedimentos que debilitam e podem influenciar muito no estado psicológico do paciente e das pessoas próximas que o auxiliam neste processo”, explica Pedrilha, que atua também junto aos grupos de Artesanato e Amigas da Onça, frentes de apoio instituídas pelo CECAN para ampliar e humanizar relacionamentos.
Ela esclarece que nem sempre é fácil ao paciente e seus familiares compreender tudo o que está acontecendo ou lidar com as transformações que ocorrem no corpo e na rotina por causa da doença. “Por isso, é fundamental cuidar também do aspecto psicológico”, revela Pedrilha. Ela enfatiza que, quando as mudanças são compreendidas e enfrentadas da melhor maneira possível, fica mais fácil aliviar o impacto que todos sofrem neste cenário de adoecimento, em que a dor, o desconforto, a baixa autoestima, a incerteza quanto ao futuro e o medo provocam dificuldades no relacionamento familiar e interpessoal.
Segundo a psicóloga, na prática, o acompanhamento psicológico durante o tratamento do câncer favorece a adaptação dos limites, das mudanças impostos pela doença e da adesão ao tratamento; auxilia no manejo da dor e do estresse associados à doença e aos procedimentos necessários; auxilia na tomada de decisões; prepara o paciente para a realização de procedimentos invasivos dolorosos; promove melhoria da qualidade de vida; auxilia na aquisição de novas habilidades ou retomada de habilidades preexistentes; e ajuda a promover a revisão de valores para o retorno à vida profissional, familiar e social ou, até mesmo, para o final da vida.
Ela conta que, a princípio, sua atuação era cautelosa no CECAN, pois a Unidade estava iniciando esse trabalho e os contatos eram feitos durante as sessões de quimioterapia, em que o paciente pode permanecer por horas recebendo infusão medicamentosa. Segundo ela, naquela época, o apoio psicológico já era extensivo ao familiar e o contato feito respeitando-se o desejo das pessoas de falar ou não. “Desta forma, fomos gradativamente desmistificando o mito do psicólogo e promovendo a inserção desse profissional na nova rotina dos pacientes”, disse.
Hoje, entretanto, o movimento é contrário e a agenda para consulta psicológica é bastante procurada. “Os pacientes antigos já me procuram espontaneamente e os novos são encaminhados pelos próprios familiares ou pela equipe de médicos e enfermeiros”, disse Pedrilha. Segundo ela, o desafio está em acolher pacientes e familiares em um momento de extrema fragilidade e mostrar a eles que o CECAN é um lugar bom; em que as pessoas vêm para se curar.