Cecan

Acolhimento e palavras ajudam na cura do câncer

No Dia do Psicólogo, 27 de agosto, CECAN revela a importância da psico-oncologia

A psicóloga Pedrilha Goes Baggi

Ter alguém com quem se pode contar nos momentos mais difíceis é fundamental; principalmente quando o problema afeta o círculo social da pessoa e, muitas vezes, nem mesmo a família sabe como ajudar.

Segundo a psicóloga hospitalar Pedrilha de Goes Baggi, que há 12 anos atua junto ao CECAN- Centro do Câncer da Santa Casa de Piracicaba, essa é uma situação bastante comum junto a pacientes com câncer.

Ela explica que, ao se deparar com a doença, a família se depara também com inúmeras perdas e a angústia ganha espaço quando fica difícil amenizar o sofrimento do ente querido que está doente. “É uma situação difícil, em que o paciente pode se ver diante da perda do corpo sadio, de um órgão, do cabelo, da autonomia, da pró-atividade social, da fé e até mesmo da vida em uma profusão de sentimentos que afetam também amigos e familiares ”, disse a psicóloga.

Segundo ela, nestes casos, o acompanhamento psicológico é uma oferta de auxílio ao paciente e às pessoas mais próximas a ele, tornando-se um recurso poderoso que ajuda a aliviar as dificuldades de adaptação aos efeitos biológicos, sociais e emocionais que o tratamento pode gerar; facilitando o processo de comunicação do paciente com o médico e a equipe multiprofissional.

“O apoio acontece quando estamos presentes, junto ao paciente durante o tratamento; quando promovemos atividades prazerosas; quando ouvimos sobre seus sentimentos e pensamentos e quando somos claros e verdadeiros com relação às informações, melhorando a comunicação com o paciente de forma a aumentar a confiança, o suporte e o acolhimento oferecidos a ele”, disse Pedrilha.

Ela lembra que isso melhora o tratamento porque diminui emoções e pensamentos negativos, reduz sintomas de ansiedade e depressão e ajuda a eliminar comportamentos de isolamento. “Não é fácil ao paciente e seus familiares compreenderem tudo o que está acontecendo e lidar com as transformações que ocorrem no corpo e na rotina por causa da doença. Por isso, é tão fundamental cuidar também do aspecto psicológico”, revela.

Pedrilha conta que, desde que foi implantado, em 1993, o CECAN trabalha para oferecer excelência em qualidade na prevenção, no diagnóstico e no tratamento do câncer, reunindo médicos especialistas nas áreas de oncologia e radioterapia. “Mais de 25 mil pacientes foram atendidos nestes 26 anos de atuação”, disse.

“Apoio psicológico alivia a dor da alma”

À exceção de uma pequena porcentagem de pessoas que, desde o início, aceita muito bem o diagnóstico de uma doença como o câncer, na maioria das vezes, o processo de adaptação e convivência com a nova realidade pode provocar a negação da doença, revolta e depressão antes de se alcançar a aceitação.

O problema de não eliminar ou encurtar essas fases é que, nesse período transitório, esses sentimentos geralmente interferem nos resultados do processo de tratamento, acarretando perdas importantes na qualidade de vida do paciente.

Quem passou por essa experiência foi a dona de casa Deinha Maria Pereira, de 67 anos. Ela é paciente do CECAN desde outubro do ano passado, quando foi diagnosticada com câncer de útero e precisou se submeter a uma histerectomia para retirada do órgão, em abril deste ano.

Companheira de Antonio Betiol, com que vive há 35 anos, 26 deles na cidade de São Pedro, ela já fez quatro de um total de seis sessões de quimioterapia após a cirurgia. “Passei muito mal, pois tive muito enjôo, cólica intestinal e tontura”, disse Deinha afirmando que o processo de descoberta e tratamento do câncer provocou uma reviravolta em sua vida.

“Mexeu muito com o meu psicológico e me deixou para baixo; principalmente quando tive queda dos cabelos”, conta a dona de casa, lembrando dos inúmeros momentos em que se pegava triste e chorando. “Foi quando minha médica me encaminhou para o acompanhamento psicológico no CECAN”, revela Deinha.

Segundo ela, na terapia, ela descobriu a importância do pensamento positivo, de se aceitar com a doença e saber que ela não lhe pertence. “Hoje sou outra; mais forte, leve e confiante”, disse revelando que a assistência psicológica ajudou a aliviar a dor da alma.

“Outros podem se fortalecer com a minha história”

O motorista Jean Marcel Rodrigues, de 46 anos, também enfrentou os medos e a insegurança provocados pelo câncer. Casado há 13 anos com Thais Constantino, 38, ele tem três filhos do primeiro casamento (Bruno, 26; Lucas, 25; e Matheus, 17) e uma enteada (Ana Clara, 18).

Paciente no Cecan desde 2013, onde ele trata um câncer de intestino com metástase que paralisou um de seus rins e o canal da urina, Jean enfrentou quatro cirurgias e um AVC (acidente vascular cerebral), em agosto de 2018, quando foi desenganado pelos médicos. “Operei numa sexta-feira e na segunda já estava bem”, disse Jean, contando que hoje faz quimioterapia uma vez por mês.

“A psicologia tem me ajudado a desabafar sobre a doença e sobre o que estou sentindo; tenho certeza de que Deus tem um propósito por me deixar vivo e me permitir contar minha história para que outros possam se fortalecer com ela”, disse Jean.

Ele conta que vive um dia pós o outro e que, se ele não contar, ninguém sabe que ele tem câncer. “A Pedrilha é como uma mãe pra mim; saio da terapia aliviado e renovado porque descobri a força do meu estado mental e psicológico”, disse, frisando também a importância da família nesse processo. “Minha família, sobretudo minha esposa e meus filhos, têm sido tudo pra mim”, disse.

“A terapia me devolveu a vida”

A história da recepcionista Cristiane Aparecida Ferreira, de 45 anos, também é repleta de superação e amor à vida. Recepcionista na Maternidade da Santa Casa de Piracicaba há oito meses, ela trata um câncer de mama no CECAN desde 2017 depois de se submeter a uma cirurgia em Goiás, onde ela morava, para retirada parcial da mama esquerda.

Casada com o eletricista industrial Glauco Maccari, 47, ela revela que cada pessoa tem uma forma de lidar com o que a vida lhe impõe. “Fiquei forte durante todo o tratamento; quando enfrentei as sessões de quimioterapia e radioterapia”, conta.

O problema, porém, surgiu quando Cristiane terminou o tratamento. Ela revela que, no dia da última medicação, foi tomada por um ataque de pânico que a paralisou. Ela teve medo de voltar à vida normal e quase não conseguia dormir, com a sensação de ter “uma espada apontada para a sua cabeça o tempo todo”.

“Foi quando a psicóloga Pedrilha, do CECAN, entrou na minha vida e me ajudou a renascer a partir do momento em que, com apoio e orientação dela, eu passei a me ver com outros olhos e a me valorizar mais como profissional, pessoa e mulher”, disse exaltando a importância do apoio e acolhimento necessários na hora certa.