Cecan

Eles descobriram um câncer e ‘cortaram’ o cigarro

José Valdir Moraes e João Francisco Garcia

O que torna semelhantes as histórias do agricultor José Valdir Moraes, 59, e do funcionário público João Francisco Garcia, 57, é que ambos fumaram por mais de 40 anos e desenvolveram um câncer de pulmão que os levaram a “cortar” radicalmente o fumo de suas vidas.

Neste Dia Mundial Sem Tabaco, 31 de maio, eles contam que descobriram a doença já em estágio avançado e lembram que, independente do tratamento e do nível da assistência, o que importa mesmo é que o tumor seja descoberto no começo. Ambos afirmam ter pensado em parar de fumar, mas nunca se sentiram estimulados o bastante para isso. Segundo eles, foi preciso enfrentar um câncer para perceber que era possível ser mais forte que o vício.  

“Antes do câncer, tive o que a gente conhecia como ‘nó nas tripas’, o que me causou muita cólica e dor abdominal”, lembra José Valdir, que há um ano trata um câncer de pulmão com sessões mensais de quimioterapia no CECAN- Centro do Câncer da Santa Casa de Piracicaba.

Casado com Clarice, 51, que também é fumante, ele é pai de Danilo, 32, e fumava mais de dois maços de cigarro por dia. Seus pais também fumavam e José Valdir tinha ainda o exemplo dos amigos, todos fumantes. “Comecei a fumar aos 14 porque naquela época a gente trabalhava muito e acabava descontando o estresse no cigarro. Então eu não via a hora de acender um cigarro como forma de passatempo, alívio e diversão”, conta.

Ele admite que sabia dos malefícios do cigarro, mas não levava isso muito a sério. “Parece que nosso pensamento não funcionava direito e eu achava que isso nunca aconteceria comigo”, confessou. Diz que não tem sido fácil enfrentar o câncer e parar de fumar, e que está há mais de oito meses sem colocar um cigarro na boca. “Troquei o cigarro pelo celular e hoje, além do café, corro para o celular para desestressar”, revelou.

Garante que se sente bem e que, sem o cigarro, leva uma vida normal, sem dor. Também sente melhor o gosto e o cheiro das coisas. “Não tive medo do câncer porque sei que não adianta ficar nervoso; nessas horas, o melhor é enfrentar e viver o que vier pela frente”, disse.

Meu filho parou de fumar comigo

Quando soube que estava com câncer de pulmão, João Francisco Garcia já havia parado de fumar meses antes, em decorrência das complicações de um pé diabético. “Fui internado e desde então, não fumo mais. Pus isso na cabeça e pronto; principalmente depois do câncer”, afirmou.

Conta que há um mês trata um tumor estágio 4, bem avançado, e que apesar do pavor que se seguiu ao diagnóstico da doença, ele se sente bem. “Sou aposentado mas continuo trabalhando em home office”, disse. Segundo Garcia, o estimulo vem sobretudo da família, que ele desenvolveu ao lado da companheira Nanci Elisabete, 57, com quem tem os filhos Luís Henrique, 32, e Guilherme Augusto, 28. “O meu mais velho era fumante mas parou junto comigo, para me incentivar; e isso acabou sendo bom para a saúde dele também”, contou emocionado.

Revela que fumava desde os 15 anos; há 42 anos, portanto, devido sobretudo à falta de informações mais claras sobre os malefícios do cigarro. Começou vendo outras pessoas, a exemplo dos amigos e dos pais, e chegou a fumar um maço de cigarros por dia.

Conta que sofreu muito a ausência do tabaco nas primeiras semanas em que parou de fumar, sensação que se amenizou durante o período em que permaneceu internado. “Senti muita falta do cigarro; mas depois isso passou; até por necessidade, mesmo”, revela.

Hoje, ele garante sentir-se muito melhor. Já fez as duas primeiras sessões de quimioterapia e, apesar de ter tido tosse, falta de ar e um pouco de dificuldade para falar, está se adaptando bem ao tratamento e já sente melhor cheiros e gostos e melhora na capacidade respiratória.

Ao deixar sua mensagem ele pede “para quem nunca fumou, que nunca o faça; e para quem fuma, que faça o possível para parar”. Segundo ele, esse é um ato de amor para consigo mesmo e para com a próximo também.

Tabagismo causa 8 milhões de mortes todos os anos

O médico oncologista Fernando Medina, diretor do CECAN, revela que o tabagismo é um dos principais fatores para desenvolver o câncer de pulmão, o segundo tumor mais incidente em homens e o quarto, em mulheres, no Brasil.

“Trata-se de uma neoplasia com mais de 2 milhões de novos casos por ano no mundo; sendo também o tumor que mais mata no mundo, com 1,76 milhão de mortes, devido ao estágio avançado em que a grande maioria é descoberta e tratada”, disse.

Segundo Medina, os números comprovam a importância e extrema urgência de reduzir o número de fumantes e, consequentemente, a incidência de doenças relacionadas ao tabaco. O oncologista alerta inclusive para o perigo do tabagismo por fumantes com pneumonia causada pelo coronavírus. “Eles têm 14 vezes mais chances de progressão da doença para formas mais graves da doença, em relação ao não fumante”, alertou.

O tabagismo é reconhecido como uma doença crônica causada pela dependência à nicotina presente nos produtos à base de tabaco, sendo considerado a maior causa evitável isolada de adoecimento e mortes precoces em todo o mundo.  Mata mais de 8 milhões de pessoas por ano; sendo mais de 7 milhões resultantes do uso direto do produto, e cerca de 1,2 milhão de não-fumantes expostos ao fumo passivo.