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CECAN pesquisa impactos da covid-19 em pacientes com câncer

Estudo mostra que a pandemia dificultou o acesso a procedimentos preventivos e diagnósticos

A pesquisa foi coordenada pelo oncologista Fernando Medina e pelo rádio-oncologista Caio Marcelo Jorge

Médicos do CECAN- Centro do Câncer da Santa Casa de Piracicaba e do COC- Centro de Oncologia Campinas realizaram pesquisa junto a 3.000 médicos de cidades da região para verificar a percepção desses profissionais com relação ao impacto da pandemia do novo coronavírus no diagnóstico e tratamento do câncer.

O oncologista Fernando Medina (CRM 43587), diretor do CECAN e um dos coordenadores da pesquisa ao lado do rádio-oncologista Caio Marcelo Jorge (CRM 124810), lembra que apesar do sistemático aumento anual de incidência de câncer no Brasil, fica evidente a sensível queda no atendimento de pacientes oncológicos durante a pandemia.

“A pesquisa mostra claramente que a pandemia piorou muito esse quadro”, alertam os oncologistas.  Segundo eles 76,5% dos médicos entrevistados alegaram diminuição de 10% a 30% na demanda de atendimento a pacientes oncológicos; enquanto outros 26,5% relataram redução superior a 30%.

Pela pesquisa, foi possível observar também um absenteísmo significativo entre o período antes da pandemia  e durante a pandemia. “66,4% dos médicos disseram que os pacientes compareciam a todas as consultas antes da pandemia; após a pandemia, apenas 25,5% dos médicos tiveram essa impressão”, relataram.

Os coordenadores da pesquisa revelam que a mesma tendência se deu com relação ao tratamento oncológico em que 75% dos especialistas assinalaram que  os pacientes cumpriam completamente a agenda de tratamento proposto antes da covid-19, contra 48% depois do advento do novo coronavirus. Segundo eles, mais de 85% dos médicos entrevistados acreditam que a falta de adesão ao tratamento deva-se ao medo de se contaminar com a covid-19 em ambiente hospitalar.

Os dados revelam também que, antes da pandemia,  8,8% dos médicos tinham a percepção de que a maioria dos casos tratados estavam em estágio avançado, quando são menores as chances de cura. Após a pandemia, essa mesma percepção aumentou e foi compartilhada por 29,4% dos entrevistados, revelando o expressivo aumento de casos graves da doença.

Para os oncologistas, esses dados são preocupantes porque se distanciam dos esforços empregados na prevenção e no diagnóstico precoce do câncer, que quando tratado em estágio inicial tem maior chance de cura.

“O acesso limitado a procedimentos diagnósticos dificultou o manejo do paciente desde o inicio da investigação até o tratamento”, disseram os médicos, apontando também como fatores limitantes a suspensão de cirurgias (50%); a dificuldade de realização de exames de imagem (16,7%) e biópsias (13,7%); a falta de leito de internação para o procedimento (29,4%); a falta de leito de UTI  pós-procedimento (25,5%) e dificuldades de autorização dos procedimentos (13,7%).

Segundo os oncologistas, por causa desses fatores, mesmo aqueles pacientes que tentaram manter os atendimentos em dia, tiveram dificuldades ao acesso a procedimentos cirúrgicos e de imagens, necessários ao direcionamento de outros tratamentos, como as sessões de quimioterapia  e radioterapia, com grande prejuízo aos pacientes.

“O levantamento realizado pela pesquisa é um passo importante para desenvolver estudos em maior escala e aprofundamento para conduzir o enfrentamento da pandemia da covid-19 sem mitigar  as necessidades dos pacientes  que apresentam  maior risco de câncer ou aqueles que têm a doença em curso”, consideraram.

Eles revelam que, agora, o estudo passará por novas etapas de abordagens e investigações na tentativa de que a pesquisa seja publicada cientificamente.  “Podemos adiantar que a percepção dos médicos registrada pela pesquisa já tem sido confirmada por alguns levantamentos científicos atuais, uma vez que, com a pandemia, os programas de prevenção foram negligenciados”, observaram os oncologistas.

Eles informam que, dados levantados pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) e pela Sociedade Brasileira de Patologia (SBP) junto aos principais serviços de referência do país nas redes pública e privada mostram que, desde o anúncio da pandemia, em 11 de março de 2020, houve redução de 70% no número de cirurgias de câncer e queda de 50% a 90% das biópsias enviadas para análise patológica.

“Estima-se que até 90 mil brasileiros deixaram de receber o diagnóstico de câncer nos dois primeiros meses da pandemia”, constataram.

A preocupação é grande também com relação aos casos de câncer de mama que, segundo estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA), tiveram aumentou de 11% no número de casos no biênio 2020/2021, em comparação com 2018/2019.

“Isso porque o número de exames de mamografias realizado no SUS despencou mais de 80% durante a pandemia da covid-19, se comparado aos mesmos meses do ano anterior, conforme aponta levantamento feito pela Fundação do Câncer”, disseram, revelando preocupação com as perspectivas do câncer para os próximos anos.