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Car-T Cell traz avanços para o tratamento do câncer

No Dia Mundial do Câncer, oncologista compartilha a novidade, que promete revolucionar o tratamento do câncer

Palestra Dr Medina (17)

Reprogramar células de defesa do corpo humano para reconhecer células tumorais presentes no organismo e destruí-las. Esta é a mais nova perspectiva da comunidade científica com relação ao tratamento da leucemia e do linfoma e está sendo compartilhada pelo médico oncologista Fernando Medina, diretor do CECAN-Centro do Câncer da Santa Casa de Piracicaba, neste 04 de fevereiro, Dia Mundial do Câncer.

“O tratamento com células CAR-T é uma modalidade da imunoterapia que utiliza células de defesa geneticamente modificadas e reprogramadas em laboratório para destruir os tumores”, explicou o oncologista, lembrando que a terapia genética modifica o linfócito do próprio paciente e o “ensina” a identificar as células cancerosas para combatê-las. “Com certeza, um grande e importantíssimo avanço”, considerou.
A técnica vem sendo desenvolvida e aprimorada desde o ano passado pela Faculdade de Medicina de São Paulo em parceria com a Faculdade de Medicina e Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto e ainda não está disponível no mercado, até por conta do alto custo do processo.

Medina explica que a terapia Car-T Cell utiliza o linfócito do tipo T, pois é ele que comanda a resposta do corpo aos vírus e ao câncer. “Esse linfócito é retirado do sangue do próprio paciente e, depois, enviado para laboratório, para ser incubado juntamente com um vírus que produz a proteína Quimérica e cujo material genético é transferido para o linfócito T. “É a molécula com a proteína Quimérica que reconhece a célula tumoral e, já na parte interna da célula, vai ativar o funcionamento do linfócito T no combate o tumor”, esclareceu Medina.

Ele conta que o servidor público aposentado Vamberto Luiz de Castro, já em estágio terminal de câncer quando deu entrada no Hemocentro do HCRP, foi o primeiro paciente da América Latina a receber o tratamento ano passado, aos 62 anos de idade. O método já havia sido testado em 2012, nos Estados Unidos, em uma menina de seis anos que possuía leucemia linfoblástica aguda.

A equipe médica e os pesquisadores que aplicaram o tratamento em Vamberto relataram, em reportagens da época, que ele parou de sentir dores fortes quatro dias após a aplicação da terapia e que voltou a andar depois de uma semana. Em menos de 20 dias, ele não apresentava mais células cancerígenas no organismo e teve alta

“Em menos de 30 dias, as células cancerígenas haviam reduzido drasticamente e o paciente foi considerado virtualmente curado do câncer, devendo ser acompanhado por mais 10 anos para conferir o possível desenvolvimento de novos tumores”, revelou Medina. O paciente, no entanto, faleceu poucos meses depois em um acidente doméstico.

Diferente da quimioterapia tradicional, a terapia Car T apresenta uma taxa de eficácia superior em casos refratários e é menos tóxica por utilizar as células da própria pessoa.

As células são cultivadas ou modificadas fora do corpo antes de serem injetadas no paciente. Não é uma droga que já chega pronta para ser administrada. “É preciso coletar os linfócitos, fazer as alterações genéticas em laboratório e, depois, infundir essas células modificadas”.

Medina revela que há duas formas de CAR-T Cell no país: o CAR-T farmacêutico e o acadêmico. Os farmacêuticos são aqueles aprovados pela Anvisa no primeiro semestre de 2022 e produzidos pelas empresas Novartis e Janssen para pacientes com leucemia linfoide aguda B (LLA B), linfoma difuso de grande células B e mieloma múltiplo. “Esses produtos são comerciais, tiveram aprovação da Anvisa, porém, até agora, não temos uma precificação”, revela o oncologista.

Já o CAR-T acadêmico é feito inteiramente no Brasil e desenvolvido nas universidades, mas utilizado apenas em situações nas quais o paciente já fez todos os tratamentos que poderia e não há mais nenhuma outra opção terapêutica para cura ou controle do câncer.