Cecan

A hepatite C crônica é grave, assusta, mas tem cura

Médicos infectologista e oncologista falam sobre o extermínio da doença até 2030

Por ser uma doença silenciosa, quando o paciente apresenta sintomas da hepatite C crônica, ela já está em fase de cirrose hepática descompensada ou câncer de fígado. “Portanto, o ideal é diagnosticá-la antes da complicação, pois é uma doença que tem cura”, alerta o infectologista Hamilton Bonilha (CRM 51.466), coordenador do SCIH- Serviço de Controle de Infecção Hospitalar da Santa Casa de Piracicaba.

Segundo ele, a hepatite C crônica é uma doença viral causada pelo vírus C da hepatite e transmitida exclusivamente através do sangue contaminado, sendo a principal causa de cirrose hepática e câncer de fígado no mundo. “Neste cenário, pessoas que receberam transfusão de sangue e/ou hemoderivados antes de 1993 ou que fizeram uso anteriormente de injeções com seringas de vidro, correram maior risco de contrair esta doença”, aponta o especialista.

Bonilha informa, ainda, que diante da raridade em se adquirir este vírus atualmente, a Organização Mundial de Saúde e Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Hepatites Virais do Ministério da Saúde do Brasil lançaram em 2017 um plano para eliminação da Hepatite C até 2030.

“Para que este objetivo seja alcançado existe a necessidade de fortalecer parcerias com Estados e Municípios, principalmente na atenção básica e serviços ambulatoriais com a finalidade de aumentar o número de diagnóstico através de testes rápidos de detecção e, consequentemente, ampliar o número de tratamento”, observa Bonilha.

Ele revela que, a partir deste projeto, ficou estabelecido que todos os pacientes com o vírus presente no sangue deveriam receber terapia antiviral, que atualmente, na grande maioria das vezes se resume a um comprimido ao dia por 12 semanas.

Quem também defende a iniciativa da OMS e do MS  é o oncologista Fernando Medina (CRM 43 587), diretor do CECAN- Centro do Câncer da Santa Casa de Piracicaba. Para ele, a proposta para eliminação da hepatite C crônica deverá reduzir drasticamente o carcinoma hepatocelular, a cirrose descompensada e as mortes relacionadas ao fígado.

“Nossos registros de câncer de fígado são muito maiores que os de outros centros de tratamento oncológico porque somos referencia para o DRS-10 Departamento Regional de Saúde em assistência ao câncer de fígado; de forma que recebemos pacientes de Piracicaba e outras 25 cidades, pois oferecemos com exclusividade o processo de quimioembolização  para tratamento do hepatocarcinoma”, disse o oncologista.

Ele fala também sobre as dificuldades do tratamento da doença devido ao seu avanço quando diagnosticada e à baixa expectativa de vida.   Dados estatísticos revelam que, dos 2.800 casos de câncer diagnosticados no CECAN  de 2021 até o momento, 1,36% deles, o equivalente a 38 casos,  são de câncer de fígado do grupo hepático.

“Estima-se que 80% dos casos de câncer de fígado ocorrem em pessoa com cirrose hepática, pois a incidência da doença está diretamente relacionada com a hepatite B, hepatite C e cirrose hepática , que aumentam o risco de mutações genéticas e crescimento celular descontrolado, característica do câncer”, explica Medina.

Ele ressalta, entretanto, que apesar de essas condições aumentarem significativamente o risco para o câncer de fígado, nem todas as pessoas com essas condições  desenvolvem a doença. “De qualquer forma, a prevenção e o tratamento adequado das infecções crônicas do fígado são fundamentais para reduzir o risco de câncer neste órgão”, alerta o oncologista, lembrando que este é justamente o objetivo do Sábado Sem Câncer, programa  preventivo desenvolvido gratuitamente pelo CECAN para prevenção e tratamento do câncer.

 “Acompanho pessoalmente alguns casos de pacientes com cirrose provenientes dessas campanhas para exames anuais dessas pessoas”, disse.