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"Cuidado ao paciente" é tema do Dia Mundial do Câncer

Organizações defendem maior equidade, acessibilidade a serviços de saúde e redução das disparidades na incidência e mortalidade do câncer

O oncologista Fernando Medina, diretor do Centro do Câncer da Santa Casa de Piracicaba

A União Internacional para o Controle do Câncer- UICC, organizadora do Dia Mundial do Câncer, celebrado em 04 de fevereiro, elegeu o cuidado direcionado ao paciente com câncer como principal temática a ser debatida mundialmente em 2024 por entidades, organizações, instituições e serviços de saúde.

“Isso porque, em 2020, o câncer foi uma das principais causas de mortes em todo o mundo, sendo responsável por quase 10 milhões de óbitos, causados sobretudo pelos cânceres de mama, pulmão, intestino grosso e próstata”, disse o oncologista Fernando Medina, diretor do CECAN- Centro do Câncer da Santa Casa de Piracicaba.

Segundo ele, o esforço necessário para fazer progressos significativos na luta contra o câncer deve ser coletivo e envolver a sociedade, meios de comunicação, organizações, autoridades, poderes constituídos e formadores de opinião para que as mudanças estruturais necessárias ocorram.

Nesse cenário, o oncologista destaca a importância do acesso equitativo ao cuidado com o câncer para todas as pessoas, independente da sua origem ou localização, e ressalta o empenho que deve partir dos governos globais no sentido de melhorar a equidade na saúde, aprimorar a acessibilidade aos serviços de câncer e reduzir as disparidades na incidência e mortalidade do câncer. 

Para Medina, essas ações são essenciais e devem incluir aumento do financiamento em pesquisas, desenvolvimento de registro de câncer baseado na população, implementação de estratégias nacionais eficazes contra o câncer, cobertura de saúde universal, acesso à educação sobre o câncer, regulação de produtos carcinogênicos, implementação de programas de triagens de rotina para os tipos mais comuns de câncer e fomento ao cuidado centrado no paciente.

Para ele, um dos problemas enfrentados com relação ao tratamento do câncer refere-se ao diagnóstico e tratamento da doença pelo SUS- Sistema Único de Saúde, processo que ainda apresenta desafios significativos, principalmente relacionados à logística e às disparidades regionais.

Como exemplo, ele cita estudo publicado pela Fundação Oswaldo Cruz revelando que, mais da metade dos pacientes que fazem tratamento contra o câncer pelo SUS, precisam se deslocar do município onde moram para receber assistência especializada. “Essas dificuldades são mais acentuadas nas regiões norte e centro-oeste, onde os pacientes têm que percorrer de 296 a 870 quilômetros para ter acesso ao tratamento”, observou o médico revelando que, em estados como Roraima e Amapá, pacientes chegaram a percorrer mais de 2 mil quilômetros para atendimento radioterápico.

Ele revela ainda que, embora o SUS ofereça tratamento para o câncer, incluindo terapias mais modernas, a forma como ela é financiada e a falta de uniformidade nos protocolos de tratamento podem levar a desigualdades no acesso e na qualidade do tratamento recebido.

Medina conta que o Brasil registra 700 mil novos casos de câncer por ano e que a prevenção da doença envolve escolhas saudáveis de estilo de vida, incluindo dieta equilibrada, atividade física, controle de peso e o não consumo de tabaco. “Essas recomendações refletem a compreensão de que a adoção de hábitos saudáveis de vida e a realização de exames preventivos são fundamentais para prevenção e detecção precoce do câncer, contribuindo significativamente para a redução dos riscos de mortalidade pela doença”, considerou Medina.

Avanços no tratamento

O oncologista aponta, também, grandes avanços no tratamento do câncer por meio de cirurgia e técnicas de radioterapia, quimioterapia e imunoterapia. “Inovações tecnológicas refinam o uso da cirurgia no tratamento do câncer visando melhorar a sobrevivência e a qualidade de vida dos pacientes, que contam também com o desempenho e eficiência da cirurgia robótica para melhora do pós-operatório com redução das complicações pós-operatórias”, disse.

Ele apontou também o uso do hipo-fracionamento e da computação gráfica na radioterapia para entrega da radiação exatamente em cima das lesões tumorais, de forma a diminuir o número de aplicações e os efeitos colaterais e aumentar a sua eficiência.

A quimioterapia também se desenvolveu nesses últimos anos, assim como a imunoterapia e a vacina de RNA mensageiro (mRNA) contra covid, que têm impulsionado as pesquisas na área da imunoterapia e agora são usadas contra o câncer. “São avanços importantíssimos que devem ser comemorados”, finalizou o oncologista Fernando Medina.