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Vacina contra o câncer de pâncreas: uma nova esperança

Embora menos comum, o câncer de pâncreas é particularmente letal, com taxas de sobrevivência muito baixas

O oncologista Daniel Modollo falou a familiares e pacientes em tratamento

Um dos tumores mais temidos devido a sua agressividade e rápida evolução, o câncer de pâncreas tem má fama, pois não apresenta sintomas na fase inicial e avança agressivamente, mas isso não significa que a doença não tenha tratamento. 

No momento em que surge uma nova esperança – uma vacina terapêutica contra o câncer de pâncreas bastante promissora, o médico oncologista Fernando Medina, diretor do CECAN- Centro do Câncer da Santa Casa de Piracicaba esclarece sobre o tema.

Segundo ele, o câncer de pâncreas é o tumor maligno que se origina no pâncreas, órgão localizado atrás do estomago e responsável por produzir enzimas digestivas e hormônios, como a insulina. Este tipo de câncer é particularmente agressivo e muitas vezes diagnosticado em estágios avançados, o que dificulta o tratamento e reduz a taxa de sobrevivência.

 A incidência do câncer de pâncreas, segundo Medina,  varia em diferentes partes do mundo; “De acordo com a organização mundial da saúde (OMS) e a Agência Internacional  para Pesquisa do Câncer (IARC), o câncer de pâncreas é a 12ª  forma mais comum de câncer no mundo, com cerca de 460.000  casos novos diagnosticados em 2018”, disse o oncologista, lembrando que a taxa de incidência é mais alta em países desenvolvidos como os Estados Unidos da América  e  Europa Ocidental.

No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, serão diagnosticados 11.090 casos novos de câncer de pâncreas no ano de 2024, sendo 5.780 em homens e 5.310 em mulheres. “Embora menos comum, o câncer de pâncreas é particularmente letal, com taxas de sobrevivência muito baixas. Muitas vidas foram ceifadas por esta doença, a exemplo de Steve Jobs, Patrick Swayze, Luciano Pavarotti, Gabriel Garcia Márquez entre outros”, contou.

 

Desafios do Câncer de Pâncreas

Os desafios ainda são muito grandes, pois o câncer de pâncreas é uma doença complexa e desafiadora, com vários obstáculos que dificultam o diagnóstico, tratamento e prognóstico.

Entre os principais desafios, podemos destacar:

Sintomas inespecíficos: Na fase inicial, o câncer de pâncreas geralmente não apresenta sintomas específicos, o que dificulta o diagnóstico precoce. Os sintomas podem ser vagos e semelhantes a outras doenças, como dor abdominal, náuseas, vômitos e perda de peso.

Falta de exames eficazes: Não existe um exame de rastreamento eficaz para o câncer de pâncreas. Os exames disponíveis, como ultrassom abdominal e tomografia computadorizada, podem não detectar o tumor em estágio inicial.

Tumores agressivos: O câncer de pâncreas é um tumor com alto grau de malignidade e capacidade de se espalhar rapidamente para outros órgãos.

Resistência a tratamento: As células do tumor pancreático podem ser resistentes à quimioterapia e à radioterapia, tornando o tratamento mais desafiador.

Cirurgia complexa: A cirurgia para remover o tumor pode ser complexa e de alto risco, devido à localização do pâncreas e à proximidade de outros órgãos importantes.

Baixa taxa de sobrevida: O câncer de pâncreas tem uma das taxas de sobrevida mais baixas entre os tipos de câncer. Em média, apenas 9% dos pacientes com diagnóstico de câncer de pâncreas sobrevivem por cinco anos.

Dificuldade na detecção de recidiva: O tumor pode reaparecer após o tratamento, o que dificulta o prognóstico e o acompanhamento dos pacientes.

Falta de conhecimento sobre a doença: Ainda há muito a ser pesquisado sobre as causas, desenvolvimento e mecanismos de resistência do câncer de pâncreas.

Impacto psicológico: O diagnóstico de câncer de pâncreas pode ter um impacto significativo na saúde mental dos pacientes, causando ansiedade, depressão e medo.

Avanços e perspectivas:

Apesar dos desafios, há progressos na pesquisa e no tratamento do câncer de pâncreas. Novas tecnologias, como a terapia-alvo e a imunoterapia, estão mostrando resultados promissores em estudos clínicos. A pesquisa também está focada no desenvolvimento de melhores métodos de diagnóstico precoce e acompanhamento dos pacientes.

Investimento em pesquisa: É fundamental investir em pesquisas para aumentar o conhecimento sobre a doença e desenvolver novos métodos de diagnóstico, tratamento e prevenção.

Campanhas de conscientização: Aumentar o conhecimento sobre o câncer de pâncreas e seus sintomas pode ajudar na detecção precoce e melhorar o prognóstico dos pacientes.

Apoio aos pacientes: É importante oferecer apoio aos pacientes com câncer de pâncreas e seus familiares, tanto físico quanto emocional, para ajudá-los a lidar com os desafios da doença.

Com o investimento em pesquisa, desenvolvimento de novas tecnologias e conscientização da população, espera-se que os desafios do câncer de pâncreas sejam superados no futuro, proporcionando melhores chances de cura e qualidade de vida para os pacientes.

Vacina contra o câncer de pâncreas

A vacina contra o câncer de pâncreas em estudos iniciais utiliza a tecnologia de RNA mensageiro (mRNA), semelhante às vacinas contra COVID-19. Por meio dela, o mRNA da vacina codifica proteínas específicas do tumor pancreático.

Quando a vacina é injetada no paciente, as células do corpo capturam o mRNA e o traduzem em proteínas. Essas proteínas “ensinam” o sistema imunológico a reconhecer e atacar as células cancerígenas do pâncreas. A resposta imune do corpo pode ajudar a eliminar o tumor ou prevenir seu crescimento.

Os resultados iniciais dos estudos com a vacina contra o câncer de pâncreas são promissores. Em um estudo de Fase 1, a vacina foi segura e bem tolerada por pacientes com câncer de pâncreas em estágio avançado. A vacina induziu uma resposta imune robusta em 50% dos pacientes. A resposta imune durou até três anos após a imunização. Alguns pacientes apresentaram regressão do tumor ou estabilização da doença.

Os resultados mais recentes do estudo sobre a vacina de mRNA para o tratamento do câncer de pâncreas foram apresentados no Congresso Anual da American Association for Cancer Research (AACR) em San Diego pelo Dr. Vinod Balachandran, cirurgião-cientista de câncer de pâncreas do Memorial Sloan Kettering Cancer Center (MSKCC). Esses resultados mostraram que a vacina candidata a câncer ativou células imunes que persistiram no corpo até três anos após o tratamento em certos pacientes. Além disso, uma resposta imune induzida pela vacina correlacionou-se com um risco reduzido de o câncer retornar.

Foi observado também que, em 8 pacientes que tiveram uma resposta imune ativada pela vacina de mRNA, 6 desses pacientes não apresentaram retorno do câncer durante o período de acompanhamento. Em contraste, o câncer retornou em 7 dos 8 pacientes cujos sistemas imunológicos não responderam à vacina durante o período do estudo. Embora esses dados sugiram que a vacina investigacional pode ter estimulado uma resposta duradoura das células T, os pesquisadores ainda não sabem se as vacinas causaram o atraso no retorno do câncer; investigar essa questão é um objetivo de um ensaio clínico de fase 2 randomizado em andamento.

O racional para combinar a vacina de mRNA com o atezolizumab, um inibidor de checkpoint imunológico, baseia-se na hipótese de que a vacina pode ensinar as células T a reconhecer e atacar as células cancerígenas específicas do paciente, enquanto o atezolizumab pode ajudar a superar a supressão imunológica no microambiente do tumor, permitindo uma resposta imune mais eficaz contra o câncer. A combinação dessas terapias visa potencializar a resposta imune antitumoral e melhorar os resultados clínicos para os pacientes com câncer de pâncreas.

É importante ressaltar que os estudos ainda estão em fase inicial e que a vacina ainda não está disponível para o público em geral. Mais pesquisas são necessárias para confirmar a segurança e a eficácia da vacina em um número maior de pacientes.

Portanto, a vacina de RNA mensageiro (RNAm) contra o câncer de pâncreas é uma área de pesquisa promissora, mas ainda está em estágios iniciais de desenvolvimento. O conceito é semelhante ao das vacinas de RNAm para COVID-19, como as da Pfizer-BioNTech e Moderna. Essas vacinas funcionam ensinando o sistema imunológico a reconhecer e combater o vírus que causa a COVID-19. Da mesma forma, uma vacina de RNAm para o câncer de pâncreas visaria ensinar o sistema imunológico a reconhecer e atacar as células cancerígenas do pâncreas.